domingo, 29 de julho de 2012

sinto escrevo, escrevo sentindo para sentir

 

Escorre uma ou outra gota de suor

Cerro a boca apenas escrevo

Os dedos dançam freneticamente

Nas teclas do computador

Sinto não penso

Porque se penso muito deixo de sentir

E os dedos param de dançar

E já não há música

Não há palavras

Nem letras a flutuar

Ficam mudas

 Invisíveis

Amarfanhadas

Ninguém as pode alcançar

E o vento não as leva para aquele lugar

Aquele …

Que cada um guarda em si

No seu peito

Do seu jeito

No seu abrigo

No seu sentir



Sílvia Mota Lopes

sábado, 28 de julho de 2012

A Asa ( escrito agora)


Naquele trilho deserto
Onde o verde ainda verdeja
Encontrei uma asa no chão
Perdida sem nome
Não uma asa de ave
Não uma asa qualquer
Uma asa nunca vista
Neste mundo de homem só
Iluminada envolta de brilho
Que cega a quem passa
Não estava suja, nem tinha pó
Toquei para a sentir
E o cheiro que emanava
Não era perfume, nem jasmim
Era algo que nos transcende
Nunca senti cheiro assim
Ela levitou e por instante
Encaixou, colou em mim
Fiquei um pouco assustada
Mas mediante algo tão belo
Não havia mal que me fizesse
Mas…para que serve uma asa apenas?
Perguntei,  pensei para mim
Só com ela não posso voar
Percorri mais uns passos
Desta vez mais certos
Mais à frente avistei
Um outro viajante
Também ele com uma asa só
Acelerei o passo
E quando estava ao seu lado
Olhei para ele
E ele olhou para mim
Deu-me a mão sem dizer palavra
E eu, palavra não lhe dei
E Mudos de mãos dadas
Começamos a andar ao mesmo compasso
Como se fossemos um só
As asas começaram a bater
Mais rápido que o vento
Voamos quase sem dar por isso
Percorremos o mundo
Depois de o vermos de perto e de longe
De chorar e de sorrir
Até se tornar cada vez mais pequenino
Voamos cada vez mais para longe
Felizes por partir

Sílvia Mota Lopes

sexta-feira, 27 de julho de 2012

 
Bale ao longe a cabra
balindo não se cala
espera a fome
pelo alimento que tarda a vir
Cheio de gente
vai o comboio
anda aos soluços
desespera
e ainda bale a cabra
ao longe bale
A fome já não espera
e já não bale a cabra
e a cabra mais não bale
E agora o que há para vir?
O comboio parte atulhado de gente
e já não há cabra para parir


Sílvia Mota Lopes

sexta-feira, 20 de julho de 2012

escrito de fresco:)


As palavras afundam-se na terra
Vagueia apenas o pensamento
Voa com o orvalho da manhã
Enquanto o ar frio da noite espera
Toca na nuvem
Naquele vazio
Na gota em queda
Batendo pesada no vidro
Faz sorrir a madrugada
Que o dia se faz longe
Abraçando forte
O corpo enfraquecido
E por um instante
 A alma vence
Um corpo por si vencido

Pés descalços pela rua
De alma despida
Quase nua
Menina de saia rodada
Que outrora andava à roda
Agora travada e curta
Sem cheirinho a sabão
Nem a detergente de máquina
Nem tão pouco água limpa
Para lavar o seu coração
Restam as lágrimas caídas
Salgadas como as ondas do mar
E aquela dor forte no peito
Que suplica para cessar
Resta aquela lembrança
De um passado criança
Deitada sobre as pedras da rua
Menina quase nua
Coberta de folhas secas mas húmida
Desfalece tentando embalar a dor
E de súbito ouve aquela melodia
Que um dia a fez sonhar
É a voz de um anjo que já viu partir
E de mãos dadas…
Partem os dois a sorrir

 Sílvia Mota Lopes

terça-feira, 17 de julho de 2012

Entre a vida e a morte


A vida
Que da morte fala
Pergunta
Naquela voz tão pequenina
Que de pequenina se trata
Da fragilidade do que somos
Da força que encontramos
No sorriso dos seus olhos
Confortando a nossa alma

Um dia chega
Para a questionares
 A vida é assim
Sem respostas
Ou respostas que não vos convencem
Apesar de que os grandes pensam
O oposto
Tão convencidos de convencer
E tu
Sem saberes
Sem fazer sentido
Queres que viva
Simplesmente

domingo, 15 de julho de 2012

Pinto


Pinto naquela tela                                                                    
Um traço
Um pedaço de mancha
Um fio que se estende
Sobre aquela textura branca
As cores sobrepostas
Formam seres
 A visão onírica
Sem querer
Embrenha-se na realidade
Das coisas
Do absurdo surdo
Mouco de sentido
Procuro
Entre restos de cor e linhas baralhadas
A essência
A base
O conteúdo
Entre lágrimas de chuva
Sorrisos de sol
Terras secas
Terras molhadas
Tocando na lua
Tocando no chão
Emerge na tela
Perde-se no tempo
Nas palavras
Na tela não

Sílvia Mota Lopes

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Só tu

Sinto aquele abraço apertado
sufocando-me de amor
Aquele sorriso perfeito
no momento de o ser
Do olhar cheio de brilho que cega
a palavra para não ver
Aquele íntimo sereno
da certeza de seres
para mim o amor mais lindo
de alguém que o quis viver

Sílvia Mota Lopes

Escrito de fresco:)