sexta-feira, 29 de junho de 2012

Um dia...

 
naquele azul
cinzento o mar
onde a espuma
branca beija a areia
e a luz que o longe traz
relembra o pedaço
da inocente brincadeira
pés descalços sobre o manto
húmido da noite que ousou
chorar
gemidos soltos de dia ao vento
escondem a fome
que um dia...
se atreveu a chegar



Sílvia Mota Lopes

segunda-feira, 18 de junho de 2012


Encontro aquele livro em branco
Na prateleira da estante
Seguro-o na mão e no pensamento
Cheiro as folhas…
Inspiro por segundos
Cheiram a poemas não escritos
A palavras soltas
De um poeta sem nome
Naquelas páginas feitas de espuma
Lavo a alma
Perfumo
A simplicidade do eu
Do tu
O poeta sem nome mergulha
Procura o silêncio da noite
A existência do dia
Emerge a música que embala a razão
A emoção que alimenta a alma
E o poeta sem nome
Materializa-se em pedaços de papel
Amarrotados pelo tempo
Em páginas brancas de espuma…
Esquecidos na prateleira da estante
À espera que um dia
O poeta sem nome
Seja lembrado
                                     Sílvia Mota Lopes


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Quando olho pela janela....



Olho pela janela
As ondas bailam ao som do vento
Ao longe um barco à vela
E os meninos tristes vestidos de areia
Brincam contentes com as pérolas do mar
As estrelas lá do céu dormem acordadas à espreita
Daquela canção a mais bela
Aquela canção de embalar
Olho pela janela
vejo a areia a ser beijada pelo mar
E naquele toque tão lindo
vejo-a indefesa corar
Que mais vejo eu
quando olho pela janela?
O majestoso sol a esconder-se
Para ver a lua acordar

Sílvia Mota Lopes

sábado, 9 de junho de 2012

Vagueando pelas palavras

 
Vagueias por entre as palavras
descansas no rochedo firme
tentas proteger o teu corpo frágil
queres alcançar para além de ti
mas está longe
o teu olhar apenas consegue ver ao perto
fechas os olhos no escuro
o pensamento persiste
não tem distâncias
pode ir onde tu quiseres
mas acaba por adoecer
resta apenas um corpo dormente de dor
o pensamento deixa de existir
tal como a razão e o sentir
deixas
um rasto de vida
não és tu por inteira
mas fica qualquer coisa
embora pareça coisa pouca
pode dar vida a uma nova vida
e essa sim nunca
morre

Sílvia Mota Lopes

Anjo azul

 
Anjo Azul
que fazes aqui tão perto de tudo
tão perto do nada?
O que há para além de ti
para além das tuas asas?
Da tua boca ouço o silêncio de um sorriso
nada me dizes?
nada tens para me dizer?
Que escondes nas tuas asas
 para além do cheiro do mar?
vejo-as iluminadas por uma luz que faz cegar
Sinto o coração bater mais forte prestes a explodir
Porque me fazes isso anjo azul?
Por favor deixa-me dormir
Aguardas a voz de um ser pequenino
fico muda perante ti
Não és tu um ser divino?
Fico à espera aqui por ti

Sílvia Mota Lopes

Desenhei...

 
Desenhei  um sorriso no céu
para o veres
segredei ao vento
para o sentires
toquei no sol
para te aqueceres
às ondas do mar
para te embalarem
à escuridão para não teres medo
pedi à lua
para te adormecer
e ao tempo
para o esqueceres

Sílvia Mota Lopes

Desejo mais introverso

 
Desejo mais introverso

Uma lambeta
para o menino
pode não parar de chorar
que chore!
chora menino
chorar lava a alma
lava a mente
faz-te ser homem
faz-te ser gente

Lambe  eta

Que dizes!
essssta!!!!
Aprende que não duro sempre

Sílvia Mota Lopes

Pedaços de vida

 
Mergulho
em  lembranças
percorro o passado
passo a passo
para nada perder
mas o tempo
é efémero
cúmplice
de uma memória
curta
enfraquecida
prestes a esquecer
vejo...
sinto os pés descalços
beijando o chão
perdendo-se em memórias soltas
viajando com o tempo
querendo a sua mão
procurando um passado
quase esquecido
envelhecendo
o presente que lhe dá sentido
caminhando para um amanhã incerto
por isso nesta inquietude
não penso
sinto
por isso recordo
vivo
alimento a minha insaciável alma
confortando-a
com pedaços de vida
que lhe dão mais sentido

Sílvia Mota Lopes

Pinto palavras

 
Pinto palavras
pequenas
do meu tamanho
minúsculas
microscópicas
palavras pintadas
no banho
palavras sem tinta
com devaneio
palavras pintadas de fresco
refrescam na sombra de um texto
leva-me as palavras o vento
com o seu "ar" de movimento
leva-me palavras pequenas
enroladas no seu tempo
voam embaladas
ensonadas
evocando
em desespero
dando voltas e mais voltas
prevendo o tudo e o nada
inquietas
pavorosas
repousam em nuvens
brancas leitosas


Sílvia Mota Lopes

A noite não é escura

 
Há momentos assim
onde a palavra fica esquecida
no olhar tudo acontece
a expressão aquece a noite fria
olhando sem tocar
despindo-lhe a pele
deixando-a nua
a alma transparece
cora em silêncio
a noite
já não é escura


Sílvia Mota Lopes


Sentada esperando

 
Sentada num banco esperando
estava eu e mais uns tantos
olhares descontentes
rostos fatigados pelo tempo
bocas ansiosas por expelir
palavras de mágoa e lamento
corpos que até nos pesam
só de os olhar
olhares pensativos
desconcertantes
olhares lamentosos
que choram sem chorar
mas o meu olhar
fixo em não se fixar
inquieto
sorria apenas
e dando tempo ao tempo
as bocas começaram a abrir
olhares cruzados
numa encruzilhada
procurando ser consolados
e consolar
eu apenas escutava
o que tanto queriam dizer
rostos cansados cheios de mágoa
procurando apenas sobreviver


Sílvia Mota Lopes

Outono

 
Outono
traz a palavra
o livro que não li
a imagem que criei
o amor que ilustrei
o abraço dos teus ramos
o segredo do teu tempo
a luz do teu futuro
o sentido do teu passado


Sílvia Mota Lopes

Nas asas de um anjo

 
Nas asas de um anjo
tentas voar
cheirando a humidade
fresca da manhã
o tempo pára
filtras o ar
agarras um pedaço de terra
temperas com a água do mar
anseias tocar no céu
mas o anjo não te leva
apenas...
podes abraçar as montanhas
e fazer amor com elas


Sílvia Mota Lopes

Pinto palavras para que as sintam...caso contrário nada faz sentido

 
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Da minha morte à nascença

 
Vou ler...beijar as palavras
viajar no imaginário das coisas
dos seres e da natureza
sentir aquela emoção a mais forte
palpitando no meu peito
chilrear melodias
soltar palavras sem jeito
vaguear na noite fria
ululando a minha presença
sentir o quente e o molhado
da minha morte à nascença

Sílvia Mota Lopes

Sorrio apenas

 
Por trás do sorriso
escondo palavras
na névoa do pensamento
agitam-se inseguras
esgotam-se
os sons fico muda
sorrio apenas
resta-me sorrir
ou fechar os olhos para não ver
mas somos mais do que cinco
seis, sete  ou até mais
não consigo libertar
são sentidos demais que não me deixam
ou morro para não os sentir
ou vivo para os sentir muito mais




Sílvia Mota Lopes

borbulhando

 
Desejas camuflar o teu corpo oco
nessa alcova de paredes frias
já nada te aquece e conforta
nem o ar que respiras
acossado pelo tempo
evanescente pensamento
eis o silêncio esperado
borbulhando
o momento


Sílvia Mota Lopes

Pinto palavras para que as sintam...